Somente no primeiro semestre de 2018, o Disque 180 recebeu
mais de 740 ocorrências relacionadas ao feminicídio no Brasil.
O dado é referente aos seis primeiros meses do ano passado,
mas é lembrado neste dia Internacional da Mulher.
O balanço do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) mostra
que foram registrados 78 casos de feminicídio e 665 tentativas de assassinatos
de mulheres no período.
Na opinião da secretária nacional de Políticas para Mulheres do Ministério da Mulher, Eronildes Vasconcelos Carvalho, mais conhecida como Tia Eron, as mulheres não denunciam as agressões, principalmente porque acham difícil aceitar que um parceiro seja uma pessoa capaz de cometer um crime.
Na opinião da secretária nacional de Políticas para Mulheres do Ministério da Mulher, Eronildes Vasconcelos Carvalho, mais conhecida como Tia Eron, as mulheres não denunciam as agressões, principalmente porque acham difícil aceitar que um parceiro seja uma pessoa capaz de cometer um crime.
“Ele vai voltar a fazer [a agressão], porque o problema dele é um problema de conduta. O agressor, marido de uma mulher que ele agride, em regra ele não tem antecedentes. Ao contrário: bonito e vestido. Quem olha vai dizer 'não bate! Esse aí deve ser um marido excepcional'. Ele atua no âmbito familiar, onde exatamente deveria estar proporcionando a segurança. Então essa mulher também não vê esse marido como criminoso. O filho não enxerga o pai como criminoso. E o pior, ele mesmo não se acha um criminoso. Mas ele é, porque a Lei diz que ele é.”
Eronides Vasconcelos Carvalho (Tia Eron)
Secretária Nacional de Politicas Para Mulheres
As agressões físicas representam 46,94% das queixas. Três em
cada dez denúncias se referem à violência psicológica. E entre os crimes mais
registrados pelo Ligue 180 no primeiro semestre de 2018, o primeiro foi o de
violência física com mais 37 mil registros. O segundo crime foi o de violência
psicológica com mais de 26 mil denúncias. Em terceiro, está a violência sexual
com mais de 6 mil casos.
Para a professora do
Departamento de Antropologia da UnB, Lia Zanotta Machado, os agressores
enxergam o gênero feminino como sinônimo de posse.
“Quando um grupo de homens estupra uma mulher, porque ela é mulher e dela ‘podem’ controlar o corpo, e [em alguns casos] a mata depois de um estupro. E mesmo que sendo entre pessoas desconhecidas, isso se trata de um feminicídio. É o menosprezo da condição da mulher. Então é porque é mulher.”
Lia Zanotta Machado
Professora do Departamento de Antropologia da UnB
Na opinião da delegada
Tatiana Bastos, 1ª titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher
(Deam) de Porto Alegre (RS), as agressões derivadas do feminicídio não são
reconhecidas nem mesmo por algumas mulheres.
“Esse ciclo vai cada vez desgastando mais essa mulher, ela vai reagindo
somente pela passividade. E isso vai a tirando a autoestima, diminuindo a sua
capacidade de autodeterminação. Então ela vai realmente ficando cada vez mais
refém daquele parceiro. Então isso é uma questão muito cultural, que a gente
precisa realmente ter um senso coletivo para que a gente possa fazer com que as
mulheres percebam essa violência e que procurem ajuda o quanto antes.”
Delegada Tatiana Bastos
1ª titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam)
Vale lembrar que em 2006, a Lei Maria da Penha nº 11.340 entrou no código penal brasileiro com
um objetivo: criar “mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher", de acordo
com o 1º artigo da lei.
Na visão da professora do Departamento de Antropologia da UnB, Lia Zanotta Machado, essa
relação próxima com o feminicídio exige da sociedade demandar os direitos da
mulher.
“A Lei Maria da Penha é uma forma de prevenir. E para as mulheres que denunciam não é só ir a Polícia, é ir aos juizados, também solicitar atendimento às redes de encaminhamento, aos centros especializados em violência contra mulher. A sociedade precisa cada vez mais demandar esse cuidado que se deve ter para que mulheres possam estar empoderadas. Responderem e não serem humilhadas, e que os homens aprendam a viver com a suas companheiras conversando e não resolvendo conflitos através da violência.”
Lia Zanotta Machado
Professora do Departamento de Antropologia da UnB
Recentemente, um caso ocorreu no Rio de Janeiro (RJ) e
chocou a população.
O empresário Fábio
Felippe agrediu, em casa, a esposa Christini
Felippe. Foram três horas de socos e chutes em dezembro de 2018. Ele foi
indiciado e denunciado pela família de Christini. O rosto da mulher ficou totalmente
desfigurado e a delegada do caso constatou tentativa de feminicídio. Segundo a
Polícia Civil, o agressor não teria concordado com a separação, o que gerou a
violência contra a própria esposa.
Para buscar ajuda
contra agressões como as sofridas por Christini, as mulheres podem procurar a
Central de Atendimento à Mulher no Ligue 180 ou por e-mail pelo
endereço ligue180@spm.gov.br. O serviço é oferecido pela Ouvidoria
Nacional dos Direitos Humanos do próprio Ministério.
Fonte: Agência do Rádio - Pedro Marra
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