A partir do olhar
transdisciplinar sobre a exploração do trabalho doméstico e seus
desdobramentos, a juíza do trabalho Maria José Rigotti Borges escreveu o livro
“Ouçam Mirtes, Mãe de Miguel: trabalho doméstico remunerado e desigualdades no
Brasil”, pela editora Appris.
O livro parte da
análise de um acontecimento trágico para compreender as estruturas sociais de
um país.
O lançamento em
Brasília será no dia 15 de março, às 19h, em uma roda de conversa na Associação
dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 10a Região (SEPN Quadra 513, Lotes 2
e 3, Salas – 502 e 508).
Como juíza do trabalho, me instigava o fato desta categoria ser tão invisibilizada e de se constituir numa complexidade que diz muito sobre a sociedade que somos. Estava iniciando a pesquisa sobre o trabalho doméstico, quando a tragédia ocorreu. Assisti às entrevistas da Mirtes e fiquei muito tocada. Me ocorreu, então, fazer um estudo de caso, olhando profundamente para o fato. Eu não queria realizar uma abordagem espetacularizada, em respeito também ao luto que a família ainda vive. Minha ideia era falar da desproteção trabalhista, da naturalidade com a qual se vê o trabalho doméstico como um não-trabalho. O trabalho doméstico remunerado no Brasil é um tema ainda bastante invisibilizado e demanda mais pesquisas. Pensar em publicar esta pesquisa como livro é um meio de tirar o véu dessas indiferenças e tornar acessíveis o conhecimento e as reflexões feitasMARIA JOSÉ RIGOTTI BORGES
Juíza do trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 10a Região (DF/TO)
O livro tratou a questão com bastante sensibilidade e humanidade, trazendo uma visão técnica, para que a gente se informe sobre o que acontece com o trabalho doméstico. Serve também para que o Judiciário entenda com mais cautela a questão e analise com propriedade todos os casos de trabalho doméstico que acontecem no tribunalMIRTES, a mãe de MIGUEL.
Atualmente, bacharel em Direito e ativista de questões raciais e de Direitos Humanos.
De acordo com a autora, há em torno de seis milhões de mulheres no país, a maioria negras, trabalhando para classe social média e alta, a maior parte de famílias de pessoas brancas. Além da informalidade em torno de 70%, tanto por opção legislativa, caso das diaristas, como por cultura enraizada ilícita de não registro na carteira de trabalho. Outra esfera são os direitos ainda desiguais em relação a outras categorias, resquícios fortes de um passado escravocrata e do pós-abolição, ainda inconclusa. O livro aborda também o fato de que a tragédia decorre de um longo processo de desumanização envolvendo pessoas negras e pobres.
Eu observei esse caso como um microcosmo de um fenômeno que segue acontecendo neste país. Mirtes era empregada doméstica que continuava trabalhando em plena pandemia, sem seus direitos trabalhistas respeitados. A forma como o trabalho doméstico é visto na nossa sociedade torna tudo ainda mais grave, não como um trabalho, mas um papel de servidão. Assim, adotei como critério para a seleção de análise “ouvir a voz” de Mirtes e, na sua potência, o que foi amplificado em outras vozes envolvidas na sua luta por justiçaMARIA JOSÉ RIGOTTI BORGES
Juíza do trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 10a Região (DF/TO)
Mirtes se transformou, com o tempo, na ativista de causas raciais e de Direitos Humanos. Foi uma mulher que transformou o luto em luta.MARIA JOSÉ RIGOTTI BORGES
Juíza do trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 10a Região (DF/TO)
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