Há um ano e quatro meses, a ciência trava uma batalha
resiliente e incansável contra a pandemia da Covid-19.
Em meus anos dedicados à pesquisa, não vejo um momento
que possa ser comparado aos desafios que enfrentamos desde então e às
conquistas alcançadas.
*Cristina Baena
A ciência compreendeu melhor
o vírus, propôs terapias com base em testes bem conduzidos, criou vacinas. Mas
a necessidade de continuar aprendendo e somando esforços é enorme. E
inesgotável.
No Brasil, a participação
como voluntários em pesquisas ainda não é tão difundida como em outros países.
Mas a empatia trazida pela pandemia e o entendimento de que a Covid-19 é uma
doença da sociedade difundiram a importância de cada um nesse processo.
Voluntários e suas famílias foram de uma grandeza e importância ímpar,
entendendo toda a necessidade e aplicação da ciência. Em meio à incerteza que a
Covid-19 traz, à dor de perder ou ver sofrer quem se ama, não pensaram duas
vezes em ajudar a salvar vidas.
E se as pesquisas têm novas
faces, elas têm também novos olhos e mãos. Enfermeiros,
farmacêuticos, intensivistas, cirurgiões, fisioterapeutas foram
protagonistas para novos achados e, principalmente, novas aplicações. São
profissionais que até então não estavam envolvidos em pesquisas acadêmicas,
mas, pela imposição do vírus, uniram a assistência à coleta de materiais, às
micro biópsias, ao recrutamento de voluntários, à implantação imediata de
mudanças de protocolos.
Esse processo ganha ainda
mais importância porque a ciência não está seguindo o ritmo habitual na pandemia.
Pesquisas vão acontecendo e seus resultados imediatamente norteando as ações
dos profissionais da linha de frente no cuidado aos pacientes infectados.
Intercâmbios de pesquisadores em redes reúnem hospitais referência de
todo país, trocando informações em tempo recorde e permitindo que instituições
de saúde se adaptem a cada mudança verificada por pesquisadores em diferentes
partes do mundo.
Se usarmos as prevalências
reportadas no recente estudo do Imperial
College de Londres, temos, no Brasil, um número de pessoas que pode variar
de 4 a 11 milhões, com enormes impactos na sua vida e de suas famílias trazidos
pela chamada "Covid longa",
inclusive com redução da capacidade de trabalho.
Depois de um período agudo da
doença, isolamento, solidão, em um percentual de infectados, ficam as
incapacidades adquiridas. Se considerarmos que os atuais pacientes brasileiros
são cada vez mais jovens, é clara a constatação de que isso terá reflexos ainda
mais marcantes para a sociedade.
E, mais do que nunca, é
preciso enxergar as pessoas por trás desses números. Esse talvez tenha sido um
dos principais aprendizados da pandemia. Porque são essas pessoas que nos
motivam e também tornam possíveis os avanços que tivemos até aqui. Não há como
negar que a ciência ganhou novos rostos desde o início da Covid-19. São pais,
mães, esposas, filhos, famílias inteiras que colocaram a possibilidade de
avançar nas descobertas sobre o coronavírus acima de suas próprias dores,
principalmente as do luto. A adesão desses pacientes e familiares tornou todo o
conhecimento que temos hoje possível.
Agora teremos que unir
esforços, entre Sistema Único de Saúde, sistema de saúde suplementar, setor
empresarial e universidades, para coletar dados, aprender rápido e oferecer
reabilitação a esse “exército” de sobreviventes do coronavírus ou teremos um
aumento insustentável no número de pessoas dependentes de atendimentos de
saúde. Pessoas que não são números, mas rostos, assim como as muitas faces que
fizeram parte da ciência nesse período.
Da mesma forma como a Covid-19 é uma
doença da sociedade, os impactos que ela deixará também serão e atuando como
sociedade integrada que minimizaremos esses impactos a médio e longo prazo.
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