Professores, bacharéis dos cursos de Letras e estudantes lutam
para garantir a obrigatoriedade do ensino de espanhol nas escolas públicas do
DF. O assunto foi debatido em audiência pública no plenário da Câmara
Legislativa.
À frente da discussão na Casa, o deputado Professor Reginaldo Veras (PDT) defendeu a oferta
obrigatória do idioma nas escolas, mas apresentou as limitações do Legislativo
no que diz respeito à regulamentação da matéria. A iniciativa de projeto de lei
sobre o assunto, conforme explicou, deve ser do Executivo.
Veras se comprometeu a elaborar minuta de proposta a ser
entregue ao chefe da Casa Civil do DF, Eumar Roberto Novacki, e ao secretário
de Educação, Rafael Parente.
Caso o governo não concorde em protocolar texto sobre o
assunto na CLDF, Veras prometeu apresentar proposta de emenda à Lei Orgânica.
"O PL é mais interessante porque é mais fácil de ser aprovado. Ele
só precisa de maioria simples. Já a PELO precisa de, no mínimo, 16 votos".
A professora Leila Bragança, da Associação dos Professores
de Espanhol do DF, afirmou que a revogação da lei federal que tornava
obrigatória a oferta de espanhol nas escolas gerou muita preocupação sobre o
futuro do ensino do idioma.
Ela citou o caso de estados como Paraíba e Rondônia, que
contornaram o problema com leis locais, e cobrou um instrumento legal para
assegurar o mesmo no DF.
"Os alunos da rede pública têm de estar ‘par a par' com os da rede
privada, em condições de igualdade. Língua espanhola cai no vestibular e no
Enem", disse.
A professora destacou, ainda, a importância do aprendizado
de espanhol como forma de "abrir horizontes".
"A língua deve ser divulgada, conhecida e estudada. E não é só
estudar gramática, é conhecer outras culturas", defendeu Leila
Bragança.
Professora do curso de licenciatura em Letras-Espanhol da
Universidade de Brasília (UnB), Sabrina Lima também lamentou a revogação da Lei
nº 11.161/2005:
"Trouxe muita tristeza. Formamos pessoas para atuarem no ensino
público, acreditamos na educação pública, e não se pode falar em igualdade de
condições se as escolas particulares oferecem esse e outros idiomas e as
escolas públicas não. O estudo de línguas estrangeiras abre universos, cria
perspectivas e pode mudar vidas".
A coordenadora da licenciatura em Letras do IFB, Marcela
Fernandes, disse que o estudo de espanhol foi um "divisor de águas"
em sua vida:
"Por meio dele, conquistei tudo o que tenho". Ela
classificou a revogação da lei federal como um "retrocesso": "Quem
mais perde é a população menos privilegiada". Além disso, a
docente questionou o que acontecerá com os futuros professores ao concluírem os
cursos de licenciatura.
Já a professora Patrícia Melo destacou que há 400 milhões de
falantes de espanhol no mundo e que essa é a língua oficial de 21 países. "É
surreal estarmos discutindo um direito que já tínhamos adquirido",
reclamou.
FRONTEIRAS
A deputada Júlia Lucy
(Novo) lembrou que o Brasil é o único país da América do Sul não fala
espanhol: "Nunca fez sentido não estudarmos o idioma". Ela
acrescentou que cada língua estrangeira estudada é "mais um instrumento de
trabalho, especialmente para as pessoas que estão na rede pública".
A assessora técnica do Escritório de Educação da Embaixada
da Espanha no Brasil, Maria Isabel Sanchez, também defendeu o espanhol no
ensino básico.
"O Brasil está inserido numa área que fala espanhol. O idioma
aproxima as várias culturas e amplia as possibilidades nos setores econômicos,
intelectuais e científicos", afirmou.
Por sua vez, Henrique Oliveira, estudante de licenciatura em
Letras-Espanhol, chamou atenção para o fato de o trânsito de pessoas entre os
países vizinhos ser mais fácil, e isso poder ser potencializado a partir do
conhecimento da língua.
"Podemos capacitar pesquisadores, técnicos e tecnólogos para irem
até esses países para intercâmbio em várias áreas. A língua pode ser mais um
veículo para o sustento e o crescimento de nossa unidade federativa".
MÚLTIPLOS IDIOMAS
Representando a Coordenação de Línguas Estrangeiras da
Secretaria de Educação do DF, Juscelino da Silva Sant'Ana não negou a
possibilidade de o Distrito Federal contar com um instrumento legal para
garantir o ensino de espanhol na educação básica. Contudo, ele afirmou que, as
políticas na área enfatizam a pluralidade linguística:
"Queremos contemplar várias línguas, não só o espanhol ou o
inglês". O gestor mencionou que os centros interescolares de
línguas (CILs), por exemplo, chegam a oferecer seis idiomas: inglês, francês, espanhol, japonês, alemão
e mandarim – o último ainda em experimentação.
Fonte/Fotos: Comunicação Social – CLDF
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