A Seguradora Líder, que administra o DPVAT, divulgou
recentemente que entre janeiro e novembro de 2017, houve um decréscimo de 9% de
indenizações em relação ao mesmo período de 2016.
Na cobertura por Invalidez Permanente, total ou parcial,
foram registradas 263.923 mil ocorrências, que representam 74% da totalidade –
montante 15% inferior ao registrado no mesmo intervalo de tempo do ano
anterior. Por outro lado, o número de vítimas fatais cresceu 24% em comparação
com o mesmo período de 2016, correspondendo a 37.492 mil indenizações.
A maior incidência de reembolsos pagos manteve o mesmo
perfil identificado em anos anteriores: a maioria das vítimas é do sexo
masculino, com idades entre 18 e 34 anos. Esse público representa 49% do total,
o que corresponde a cerca de 172 mil indenizações.
O levantamento aponta ainda que os acidentes com motocicletas foram responsáveis por 74% das
indenizações pagas pelo Seguro DPVAT. A região Nordeste segue com o maior
número de casos de acidentes envolvendo este tipo de veículo, que responde por
63% das mortes no trânsito na região.
A Perkons, empresa especializada em gestão de trânsito,
ouviu especialistas para compreender quais são as causas dos sinistros que
abrangem os motociclistas.
Celso Mariano,
especialista em educação para o trânsito, enumera três fatores que explicam os
números expressivos. O primeiro é o aumento da frota. Com a ascensão da classe
C, durante um período da economia brasileira, parte da população teve condições
de adquirir uma motocicleta. Conta Mariano:
“Essa parcela, que ascendeu economicamente, viu a oportunidade de deixar o transporte público, que é precário no Brasil. E a tendência é de que o primeiro veículo seja a moto, muito mais barata em comparação ao automóvel. E esse grupo é composto por homens jovens, com idade até 35 anos. Os próprios números divulgados pela Seguradora Líder mostram que esse público se destaca no quadro de vítimas de acidentes com motocicletas. Na região nordeste, a situação é ainda mais crítica. Os jegues foram substituídos por motos e parte do pastoreio passou a ser feito com esse veículo, o que justifica o alto índice de acidentes naquela região”.
O segundo fator se refere à falha na formação. Conforme
Mariano, o processo para adquirir a habilitação é fraco. Os condutores aprendem
apenas a se equilibrar e acelerar em um circuito fechado, sem acumular
experiência dirigindo nas vias públicas. Explica Celso Mariano:
“Quando recebem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), os motociclistas podem colocar uma caixa de pizza, por exemplo, no veículo, e pilotarem com mais peso, o que interfere no equilíbrio e facilita a ocorrência de sinistros”
Por fim, a fiscalização brasileira é ineficaz, o que
estimula parte dos condutores a burlarem a lei e dirigirem sem habilitação.
Afirma o especialista Celso Mariano:
“Não temos uma fiscalização intensificada para fiscalizar os motoristas que pilotam sem a CNH. A falta de habilitação possui ainda uma correlação com a faixa econômica dos motociclistas. São cidadãos de baixa renda, que compram a moto e não têm condição de pagar pela habilitação. Isso é muito característico nas pequenas cidades no nordeste”,
Na opinião de Eduardo
Biavati, mestre em sociologia e consultor em educação para segurança no
trânsito, as estatísticas envolvendo os condutores de motocicleta são
reflexo ainda de outros fatores, além da fiscalização precária e da formação
ineficiente:
“No Brasil, não há políticas públicas voltadas para os motociclistas e falta sinalização. As vias públicas brasileiras não foram preparadas para receber tantas motocicletas, mas, esses condutores, poucos capacitados e sem equipamentos de segurança adequados, passaram a trafegar por elas. Some a esse cenário a omissão dos órgãos públicos, inclusive na educação dos condutores, e temos a realidade atual”
MUDANÇA DE ROTA
Para Eduardo Biavati,
uma alternativa para diminuir os sinistros envolvendo motociclistas, são ações
casadas, por parte dos órgãos públicos, de intensificação da fiscalização e
campanhas educativas:
“As duas precisam ser simultâneas, como vemos no exterior. Desde que dilatou o número de motociclistas, há 20 anos, não houve nenhuma política pública em âmbito nacional para modificar a triste realidade que se desenhou. São os acidentes envolvendo motociclistas que nos mantém no patamar mais alto da mortalidade no trânsito”.
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