CORAGEM E AMBIÇÃO
Os caminhos da bem planejada narração
*Por Letícia Ribeiro
O livro de estréia da autora, Caroline
Brandão, carrega uma máxima canalizada na narrativa, digna de ser aprendida
e seguida “quando alguém julga seus caminhos, ofereça-lhe seus sapatos”.
E é sob essas circunstâncias que as protagonistas descobrem
novas perspectivas para as próprias vidas. Uma obra que nos ajuda a abrir mão
dos pré-julgamentos feitos baseados em um ponto de vista único, o nosso, e
também a abandonar o anacronismo, ou seja, analisar questões de um determinado
período com ideais e noções pertencentes somente às pessoas de nossa geração.
Paloma, responsável pelo substantivo “ambição” estampado no título do livro, graças um a invento
poderoso adquire a possibilidade de editar o seu passado e transformá-lo em
mais um experimento no qual a maior beneficiada seria ela. Para isso precisa
não apenas calçar os sapatos de sua trisavó
Anita como também portar todo seu vestuário e os costumes da época vivida
pela ancestral.
Essa segunda personagem, à qual atribuímos a “coragem” como característica principal
é considerada o motivo de a família Almeida ter sido levada à ruína, pois
recusou um casamento possivelmente vantajoso. A trineta sofre as conseqüências
dessa falência financeira e tenta revertê-las viajando no tempo e alertando a “ovelha
negra” dos Almeida sobre o efeito das atitudes tomadas por ela e obrigando-a a
casar-se com Eugênio.
Acostumada a lidar
com as ciências exatas, Paloma não prevê que os resultados são aproximados e
não exatamente precisos quando nós envolvemos fenômenos sociais.
Além da mudança temporal que nos permite comparar costumes, profissões e
vestimentas de cada período retratado, há também a oportunidade de analisar a
mentalidade assumida. Vemos assim, o quanto as velhas tradições ainda
persistem, exemplo disso é a insistência para que se coloque acima dos
interesses pessoais a prosperidade financeira e de certa forma o machismo
predominante que leva as mulheres a verem umas as outras como competidoras e
igualmente à exclusão daquelas as quais não enquadram-se em um padrão tido como
socialmente aceito.
Por determinados momentos nos questionamos se de fato o
tempo narrado é o presente, em razão de os posicionamentos serem tão antiquados
e comparáveis com aqueles tomados pelo pai de Anita, uma figura que te desafio
a não odiar.
Nesse pacote completo de reflexões ainda é possível
acompanhar como duas pessoas suficientemente parecidas a ponto de uma passar-se
pela outra sem estranhamentos, podem ter gostos, objetivos de vidas e
definições diferentes para sucesso e realização pessoal. Sobressaí então a
compreensão como motor do estabelecimento de relações, não só entre as duas
protagonistas como também nas micro-histórias de outros personagens que são
envolvidos. Diferenças políticas, temporais, econômicas e de opiniões são
abordadas por meio de uma visão conciliadora, que procura mostrar a falta de
importância de tais fatores perante a contribuição de cada indivíduo para
nossas vidas e bem-estar.
"As lições
contempladas nesse livro são simples, tal como a linguagem. Não há uma
sobrecarga de descrições ultra-detalhistas de pormenores dos cenários ou
características das personagens. É notável igualmente a pesquisa utilizada para
a construção do livro por meio do emprego de gírias e termos próprios de outras
épocas. Creio que leitores diferentes poderão achar outras possibilidades de
leitura já que com um livro extenso e esplêndido nos são oferecidos uma
multiplicidade de caminhos, por isso recomendo esse investimento de tempo"!
*Leticia Ribeiro é estudante de
Jornalismo na Universidade Federal de Goiás e estagiária na Rádio Universitária Goiânia - 870am
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